Diálogo imaginário I
— Vem cá, meu nêgo, me faz um dengo, me dá um xero, me faz um cafuné…
— Sua mãe pediu respeito, por você ser a caçula, e eu vou fazer isto.
— E ela te falou da mandiga que eu fiz para você deixar de ser moleque, e se casar logo comigo?
— Na Quitanda? Só ser for, porque o custo da vida tá alto… e se casar para a gente ficar só a comer mingau de fubá… porque o cafofo tá super caro já, e depois tem de pagar uns goró de vez em quando, para ficar tudo numa boa, mas só de vez em quando. Se nós nos casar, nós vamos nos esburrachar na falta de grana… Depois é aquela muvuca no casamento, naquela bagunça, como afinal arrumar comida para todos?
— Seu moleque sacana, isto é desculpa esfarrapada sua, porque, na verdade, eu vi você se engraçando com outra, viu? Não vou nem pensar em tirar aquelas urucubacas que colocam em você não, por mim a partir de agora você vai é volta a ficar molambento mesmo.
— Seu Axé, seu axé minha nêga, é tudo para mim. O resto a gente ganha no gogó, e na cuíca, e depois de fazer o Abadá, a gente se casa!
— Deixe de lengalenga homem. Você está me enrolando… E eu que já estou encabulada por pensar em ter de falar com você, você vai ficar sem o Acarajé e sem o Axé com a força do Dendê que eu faço com o meu amor. Ouvi dizer que tem mulher fazendo macumba para ficar com você. E, você, parece zonzo, um babaca porque ainda dá trela para estas sirigaitas! Só tribufu!
— Mas você sabe que eu só tenho olhos para você, minha Criola, que você é minha perdição, minha cachaça, meu cachimbo, meu quilombo… Vamos, deixe disso, minha gatinha, deixe de fuzuê, de pensar na macumba desta cambada, e saiba que eu só sou de você.
— Pois eu estou é a sentir um calombo crescer na minha cabeça, vixe?!
— Sem você fico tapado, fico borocoxô… se você fica zangada e vem me xingar eu vou fico zarolho! Você está zangada a toa, juro! Fiar-se, para ficar fula da vida na conversa dos outros… ficar fuçando motivo para quê, vê se pode, ficar me azucrinando a cabeça? Deixa disso!
Obs.: Mas tudo isto foi antes de ele ronronar no ouvido dela — venha cá meu xodozinho…
Como é doce a vida em Quimbundo e em Yorubá…
Diálogo imaginário II
— Volta para mim, minha nêga, volta para me fazer um dengo, me dar um xero, me fazer um cafuné…
— Minha mãe pediu respeito, por eu ser a caçula, e eu vou fazer isto.
— Mas nem uma meiguice? E ela te falou da mandiga que eu fiz para você deixar de ser arisca, e voltar para casa comigo?
— Na Quitanda? Mas nem a força que eu volto para lá … naquele muquifo para a gente ficar a comer mingau de fubá o dia todo?!…Nêgo, aquele cafofo tá dando para aguentar nem com uns goró. Depois foi aquela muvuca no casamento, aquela bagunça, para eu, no afinal, eu me arrumar com outro…
— Seu Axé, seu axé minha nêga, é tudo para mim. Volta para mim que o resto a gente resolve, arma, e volta a ganhar tudo no gogó, e na cuíca, e depois, de fazer o Abadá, será aquela festa!
— Deixe de lengalenga homem. Você sabe que eu não volto… E eu que já estou encabulada por ter de falar assim com você assim, a verdade, que eu já amo outro…
— Mas você sabe que eu só tenho olhos para você, minha Criola, que você é minha perdição, minha cachaça, meu quilombo… Vamos, deixe disso, minha gatinha, deixe de fuzuê… Pois é verdade que eu estou a sentir um calombo crescer na minha cabeça, mas eu te perdôo, vice?! Sem você fico tapado, fico todo borocoxô…
Mas tudo isto foi antes de Xangô ronronar no ouvido da Filha de Iansã — que ela era dele…
Como é doce a vida em Quimbundo e em Yorubá…